segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A ORGANIZAÇÃO DA MEMÓRIA

Nossa memória contém tanta e tão variada informação que, sem um mínimo de organização, seria impossível recuperar alguma coisa do que há nela. Ainda assim, dada a grande quantidade de resultados de aprendizagem que se armazenam nela, se queremos encontrar ou evocar uma lembrança ou um conhecimento, devemos armazenar essas aprendizagens de uma forma ordenada. A característica mais relevante de nossa memória permanente é sua organização. Boa parte das teorias psicológicas aceita tradicionalmente que nossa memória permanente tem uma organização hierárquica (De Vega, 1984).
A organização hierárquica de alguns conteúdos da memória humana, aqueles que têm uma natureza conceitual, levou à suposição de que nossa memória está organizada como um dicionário, ou, melhor ainda, como uma biblioteca, como a que ingenuamente representa, umas páginas mais atrás.
De qualquer maneira, embora os resultados da aprendizagem adotem em nossa memória as mais variadas formas de organização, parece claro que adquirir; o conhecimento de forma organizada, como um sistema explicitamente relacionado,em vez de como unidades de informação justapostas, produz uma aprendizagem mais eficaz e uma recuperação mais freqüente e provável. Um processo de aquisição muito eficaz relacionar uma nova informação com representações já contidas na memória em vez de adquiri-Ia como um elemento de informação independente.

ESQUECER PARA APRENDER

O esquecimento também é um mecanismo adaptativo de nosso sistema cognitivo que está vinculado ao próprio funcionamento da memória e não com possíveis limites em sua capacidade. As teorias da memória destacam de modo alternativo ou complementar, duas explicações principais para o esquecimento (Baddeley; 1982 1990). Segundo um primeiro mecanismo, que podemos traduzir um tanto poeticamente pelo desvanecimento do rastro, o tempo simplesmente apaga os rastros de memória, como o vento varre as folhas mortas.
Talvez não seja o transcurso do tempo, mas o que ocorre nesse tempo, o que provoca o esquecimento. Essa é a teoria da interferência, esquecemos porque novas aprendizagens vêm se depositar sobre as anteriores, apagando e esfumando sua lembrança. Nossa aprendizagem se vê deformada por uma interferência pró-ativa (ou para frente) em que toda nova aprendizagem se assimila e somente à força de aprendizagens anteriores.
Embora os dois mecanismos de esquecimento tenham certo apoio empírico na investigação (Baddeley; 1990), a idéia da memória permanente como um sistema dinâmico, em contínuo fluir, deve nos fazer pensar o esquecimento como um produto da interação entre conhecimentos, mais próxima da teoria da interferência.
Podemos dizer que nada se esquece, simplesmente não somos capazes de recuperá-lo, até que um dia, um cheiro de grama recém-aparada, o sabor de uma madalena molhada no café, um gesto desenhado levemente por uma mão, acendem a chispa e ativam essa velha aprendizagem que acreditávamos perdida e na realidade se achava inerte, dormindo sobre o fundo cinza de uma rede neuronial.
A lembrança - e com ela o esquecimento - é função da organização de nossas representações na memória.

A Memória Permanente

   A memória permanente é conhecida como um sistema limitado em capacidade e duração.
   As pessoas aprendem porque esquecem, pois a memória permanente está organizada para cumprir uma função seletiva, que permite que as pessoas reconstruírem seus passados e suas aprendizagens anteriores.
   A memória não é só um mecanismo, é um sistema dinâmico que revive e reconstrói o que aprende-se até preencher de sentido.
   As lembranças são o produto vivo e dinâmico de nossas aprendizagens.