segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ESQUECER PARA APRENDER

O esquecimento também é um mecanismo adaptativo de nosso sistema cognitivo que está vinculado ao próprio funcionamento da memória e não com possíveis limites em sua capacidade. As teorias da memória destacam de modo alternativo ou complementar, duas explicações principais para o esquecimento (Baddeley; 1982 1990). Segundo um primeiro mecanismo, que podemos traduzir um tanto poeticamente pelo desvanecimento do rastro, o tempo simplesmente apaga os rastros de memória, como o vento varre as folhas mortas.
Talvez não seja o transcurso do tempo, mas o que ocorre nesse tempo, o que provoca o esquecimento. Essa é a teoria da interferência, esquecemos porque novas aprendizagens vêm se depositar sobre as anteriores, apagando e esfumando sua lembrança. Nossa aprendizagem se vê deformada por uma interferência pró-ativa (ou para frente) em que toda nova aprendizagem se assimila e somente à força de aprendizagens anteriores.
Embora os dois mecanismos de esquecimento tenham certo apoio empírico na investigação (Baddeley; 1990), a idéia da memória permanente como um sistema dinâmico, em contínuo fluir, deve nos fazer pensar o esquecimento como um produto da interação entre conhecimentos, mais próxima da teoria da interferência.
Podemos dizer que nada se esquece, simplesmente não somos capazes de recuperá-lo, até que um dia, um cheiro de grama recém-aparada, o sabor de uma madalena molhada no café, um gesto desenhado levemente por uma mão, acendem a chispa e ativam essa velha aprendizagem que acreditávamos perdida e na realidade se achava inerte, dormindo sobre o fundo cinza de uma rede neuronial.
A lembrança - e com ela o esquecimento - é função da organização de nossas representações na memória.

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